As privações da maternidade

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não me levem a mal, amo ser mãe, amo meu filho, faria tudo novamente, teria mais uma menina e já não me vejo sem meu filho acordando sorrindo todas as manhãs - mesmo que na noite anterior ele tenha demorado duas horas para dormir agarrado ao meu peitchu.
Mas a verdade é que depois que me tornei mãe, acabei por ter de abdicar um pouco do meu individualismo e deixar algumas coisas de lado. Nada importante, nada relevante, quase tudo fútil. Mas são algumas coisas que às vezes, nem que seja por breves segundos, me fazem sentir saudade de quem eu era antes de ser "a mãe do Antonio'.

Ir à academia. 

"Mas, Ana, você pode ir à academia". Sim, posso. Mas antes eu ia seis vezes por semana, treinava pesado, tomava suplemento, conversava sobre musculação. Hoje, a ideia de ir para a academia me dá um sono danado e prefiro ir para casa dormir. Fora que depois que virei mãe passei a me sentir culpada sempre que demoro para chegar em casa, já que já fico fora quase o dia inteiro para trabalhar. Mas pretendo voltar semana que vem, quero fazer aulas de Zumba - com o meu gingado de pau de vassoura, vai ser uma imagem bonita - e voltar a correr. Sim, porque esta pochete pós-gravidez não me pertence.


Pintar o cabelo.

"Mas, Ana, sua cor natural é tão bonita, pinta não". Sim, é, mas cansa. Tudo cansa nessa vida, e eu cansei desse louro deslavado. Desde antes da gravidez que pensava em virar ruiva, mas depois engravidei e médico não deixou. Agora ainda amamento e pediatra não deixa também. Só posso usar tonalizante, que é o mesmo que zero. E como não pretendo parar de amamentar só para poder pintar o cabelo, resta-me esperar.

Comer sem interrupções.

"Nossa, Ana, duvido que há nove meses você não come sem ser interrompida". Pois posso dizer que devem se contar nos dedos de uma mão as vezes em que comi sem ser interrompida quando estava com o Antonio. Ou ele chora, ou se arrasta para debaixo da mesa, ou olha o meu prato fixamente querendo filar um rango. Quando estou acompanhada, a pessoa toma conta dele enquanto eu engulo a refeição.

Dormir.

"Mas Ana, se você não dorme há nove meses você é um caso raro". Estou falando de dormir de verdade, sem preocupações, sem hora para acordar. Desde que virei mãe nunca mais consegui dormir de verdade, sempre tem aquela preocupação de dormir pesado demais e não escutar o bebê chorar. Quando eu estava grávida, me aconselhavam: aproveita para dormir agora, porque depois... Eu achava tudo um grande exagero - e também porque na época não conseguia dormir mais com a pança, a azia, a bexiga sempre cheia, etc. Mas é verdade. E já me avisaram que nunca mais vou conseguir dormir de verdade. "Afinal, você é mãe, não pai", dizem.

Ir ao banheiro de porta fechada.

"Nossa, Ana, mas o que tem a ver?". Muito, Desde que o Antonio nasceu e sempre que ele está em casa comigo, não fecho a porta quando vou ao banheiro. Quando ele era menorzinho o levava na cadeirinha quando ia tomar banho. Sei que estou sozinha em casa com ele, que não tem problema, who cares?, mas sei lá, me sinto desprotegida.

Ter peitos vazios.

"Hein, Ana?". OK, deixem eu me explicar: quem amamenta vira meio vaca leiteira. Nem sei se posso falar assim sem virem me xingar, porque uma escritora falou isso em Portugal e quase foi excomungada. Mas é verdade, gente. Eu pelo menos me sinto assim. Quando ficou várias horas longe do Antonio, as mamocas enchem tanto que dói muito e vaza leite. Não é agradável. Eu amo amamentar, é um momento só nosso, mas confesso que esta parte é bem desagradável.

Não ter medo da morte.

"Mas carpe diem, Ana". Não, amigo. A partir do momento em que você coloca uma vida no mundo, você fica com medo de morrer e não ver seu filho crescer, ou de o seu filho morrer e você ficar em luto eterno enterrando um parte de si. Não gosto nem de pensar, mas agora sou muito mais cuidadosa na hora de atravessar a rua.

Mas sabem que mais? Não trocaria nada disso pelo prazer de ter uma pessoinha me amando de forma incondicional como o Antonio me ama.

O resto a gente corre atrás.

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