A mulher que batalhou ser

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Ela carrega em recantos escondidos da pele histórias tatuadas, vividas e ainda por viver. Deitada na cama olhando o teto branco, a íris verde reflete aquele raio de sol que entra pela fresta da cortina mal fechada. Ela pensa que ainda não conquistou tudo o que quer, mas orgulha-se do caminho percorrido até aqui. Tanto se fecha em copas como se abre para o mundo, não crê em sentimentos abafados porque sabe que quem não fala do que sente corre o risco de perder aquilo que tanto o faz sorrir.
Tem a estranha mania de transformar em poesia paixões rasas que mal têm pernas para andar. Mas ela é assim, acredita que nada é por acaso e que ninguém atravessa o seu caminho à toa. Já beijou sem amar e também já amou sem beijar, mas ela quer mesmo é a pele na pele, o amor de dormir no peito e de pernas entrelaçadas.
Já teve o coração partido em mil pedaços e também guarda cacos de corações alheios. Ela não fez por mal, é que com ela a euforia tende a passar muito rápido. Nessa hora, todo sentimentalismo vira pedra e ela vai, sim, te dispensar sem pensar duas vezes.
Ainda tem o sonho de mudar a vida de alguém, de acrescentar sorrisos em outros lares e ensinar a enxergar beleza em coisas simples. Porque quando você ama tudo o que você tem, você simplesmente tem tudo aquilo que precisa.
Vive em busca de sorrisos largos e abraços apertados. Não se engane, ela não precisa de você. Mas no fundo, bem lá no fundo, ela ainda crê em amores de uma vida, e isso, nada poderá tirar dela. 
Não gosta de perder tempo com amores fracos demais, que não merecem o seu tempo. Tem a ilusão de que é possível sim, mudar a vida do outro com amor. 



Ninguém é obrigado a querer ficar

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Com o passar dos anos, e, sobretudo, com as rasteiras que a vida dá, aprendi que ninguém é obrigado a gostar da gente, ou, mesmo gostando, a querer ficar. E está tudo bem. Isso não precisa ser o fim do mundo. Claro que por vezes deixamos prevalecer o sentimento egoísta de querer perto as pessoas que amamos, de morrer de tristeza quando elas partem ou de raiva quando elas são felizes em outros braços. Mas a verdade é que, por mais que os sentimentos não tenham um botão de liga/desliga, vale muito mais a pena deixar ir sem delongas do que se encher de "porquês". 
Não se pergunta o porquê quando a pessoa decide ir embora. O melhor é deixar ela ir, porque, no final das contas - e atenção, isso pode doer -, isso só prova que o vosso amor era fraco demais.

Tem gente que pega amor fácil demais, rápido demais. Pisca, apaixona. Ama umas dez vezes por ano. E não, não digam que não é amor. Cada um sabe da sua própria capacidade de amar. O amor é um sentimento tão bom que ele surge nas mais variadas formas, dos mais diversos jeitos e, pasmem-se, ser direcionado a pessoas completamente diferentes. E também está tudo bem com isso.

Não acredito em amores únicos da vida, almas gêmeas, aquela metade da laranja que está destinada para nós desde o nosso nascimento. Acredito, sim, que ninguém surge na nossa vida por acaso, mas o destino, ah, esse! Esse somos nós que o fazemos. Com um planeta com mais de sete bilhões de pessoas, haver uma pessoa só para a gente é pensar baixo demais.

A vida é feita de fases e nós, de mutações. Mudamos constantemente e, enquanto isso acontece, surgem pessoas que casam com aquele momento. Os momentos passam, as pessoas também. Dói? Dói. Mas passa. E como já disse, vai ficar tudo bem.

Logo se vê

domingo, 20 de agosto de 2017

Não sei em que momento comecei a me perder em você. Mas talvez, lá no fundo, eu tenha é esperança de não estar perdida é que, finalmente, tenha me encontrado naquilo que tinha dado um tempo de procurar.
Também não lembro o dia em que comecei a me desmanchar por você, quando o seu toque, a sua presença e o cheiro dos seus lábios me fizeram, por ora, querer sossegar no aconchego de um abraço apertado e pernas entrelaçadas.



Perdi o controle dos meus pensamentos porque agora eles são teus a todo momento. E se por alguns momentos me odeio porque permiti ser dominada desse jeito, em outros eu simplesmente sorrio porque conheci você.

Às vezes procuramos e não achamos, mas também achamos sem procurar. 
Quis você ontem, te quero hoje e muito provavelmente continuarei te querendo amanhã. Depois, logo se vê. 

Amor por encomenda

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Ela tinha um check-list de tudo o que queria num amor. Romântico daqueles que mandavam flores para o trabalho, educado, são-paulino e de direita, cristão, que não tivesse medo de chorar, que gostasse de crianças e cachorros. Era assim que ela queria. "Mas não agora, depois, tá? Agora quero curtir", pedia ela. Ah, tolinha, como se ela mandasse, né?

Por isso que quando ele apareceu ela não deu tanta bola. Seria mais um contatinho perdido na sua agenda de celular depois de uma ou duas saídas. "Ele não é o amor que encomendei, não dei 'check' em quase nada da lista, mas já que estamos aqui né?". Mas ele foi ficando e permitindo que ela ficasse na sua cama e na sua vida. E quando ela percebeu, já estava demasiado envolvida em algo que ela simplesmente não pediu para acontecer. E agora era tarde demais. 



Meia-dúzia de peças de roupa e uma escova de dentes na casa dela, um par de chinelos e uma caixa de lentes de contato na casa dele, cerveja no freezer dos dois. Era só isso. E não tinha romantismo, flores, mas tinha histórias, risos, Amstel bebida a dois e muita autenticidade.

Ela tem aprendido que não dá para encomendar uma pessoa nos moldes perfeitos. Que está tudo bem não gostar de futebol e não ser ligado em flores. O que importa é que às vezes é preciso se abrir para que o mundo nos presenteie com agradáveis surpresas, mesmo que não tenham sido pedidas. Não há pessoas certas, há pessoas que se acertam com a gente e que te fazem querer tentar de novo. 

O que é?

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Ela olhava para aquele cara ali, deitado do lado dela, e pensou: "Meu, o que eu vi nele?". A verdade é que ele não era do tipo que ela olhava duas vezes. Era bonito demais, sorriso impecável, mas ela nunca se encantou por esse tipo. Mas com ele foi diferente. E ela queria entender o porquê.
Uma cara bonita e uma boa pegada, alguma coisa para passar o tempo, pensava ela. "O quê? Ah menina, vou aprontar com você de novo", disse o autoritário e bagunceiro coração. E ali estava ela, do lado dele, quatro horas da madrugada, presa com o peso da perna dele sobre as dela e olhando aquele homem ali dormindo tão descansado e tentando perceber por que estava ali, afinal.



Ela não sabia por que estava ali, mas também não queria ir embora. Estar ali era bom, era sempre bom estar ali. Fechados 10 a 10. Sempre e sem sequer pedir. Os dois davam. 
"Engraçado né? A gente procura e não acha, e quando para de procurar...", pensava ela naquele instante. O que é? Nenhum dos dois sabe. Não tem rótulos, status de Facebook, fotos com legendas românticas ou cobranças. Ah, que gostoso.
Ela tenta se virar, mas o peso da perna dele não deixa. Ela dá uma risada baixinho, tampa a boca, para não o acordar. Porque ela aprendeu a dormir assim, com os corpos colados, na parceria até na hora do sono. O desconforto vira vício e ela sente até falta quando vai dormir sozinha e não tem ninguém com o peso do corpo em cima dela.
"Ok, beleza, mas o que é?". É isto. Curte e deixa rolar.

Descabelada e com o rímel borrado

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Ela gosta de se arrumar. Dá uma atenção especial ao seu cabelo, que ela prefere liso, mesmo defendendo que a mulher tem de ser o mais natural possível. Gosta de se vestir bem, especialmente em ocasiões especiais. Dificilmente sai da gama preto/azul/branco/cinza e derivados. Não liga para marcas de perfume, mas se sai sem estar perfumada, é como se estivesse nua. Suas unhas estão sempre feitas, usa corretivo até para ir à padaria. 
Mas ela é pé no chão. Não é vaidosa nem valoriza demais a beleza. Aliás, sempre achou que pessoas bonitas demais dão muito trabalho. É nas coisas simples que ela é conquistada. Na cerveja bebida no quintal e no pão na chapa da padoca. No miojo para o almoço quando dá preguiça de cozinhar. Na tarde assistindo o jogo de futebol. 

E, principalmente, no domingo amanhecido. 

Aquele mesmo, pós-balada, com a maquiagem derretida e a chapinha vencida. Com a camisa dele e a lata vazia no canto do quarto. Com um brinco perdido em um lugar qualquer. 

Nessa hora, é ela mesma.



Sem salto alto, sem perfume exalando, o batom saiu faz tempo, o cabelo desgrenhado e o rímel borrado. Ali, não tem disfarces, não tem macetes ou truques. Ali, é ela mesma, no seu momento mais vulnerável: quando acaba de acordar. Nem sabe direito onde está e já abre os olhos com um sorriso e tapa o rosto com as mãos, envergonhada, quando ele já a está olhando há alguns minutos. Mal ela sabia que era naquele exato momento que, aos olhos dele, ela estava mais linda do que com a roupa da moda, na balada do momento, com os cabelos perfeitamente alinhados e a boca desenhada dentro do contorno do batom vermelho. Ali, ela era só dele, e ele só dela. E isso é bom. 

A tua ausência

domingo, 23 de abril de 2017

Hoje acordei com vontade de você. Assim que abri os olhos peguei no celular e quase mandei o "bom dia!" a que já estava acostumada todas as manhãs. Mas aí lembrei que você não está mais aqui. Lembrei que não nos falamos mais. Passou só meia-dúzia de dias mas já parece que foram anos, que o mundo mudou: a Terceira Guerra começou, o São Paulo foi eliminado de novo, o frio veio e foi embora, os cabelos brancos deram a cara e as rugas se fortaleceram.
Quis te mandar uma música, aquela, sabe? A que eu chamo de nossa e que por 11 anos eu não conseguia escutar sem lembrar de você. "Espero que ele esteja bem" era o pensamento que me vinha à cabeça quando a ouvia antes e é precisamente​ esse pensamento que veio agora. E eu quis mandar uma mensagem falando que estava sentindo a sua falta e receber de volta um "eu também".
Mas não mandei. Não mandei porque independentemente do que você responder, provavelmente nada vai mudar, o seu silêncio deixa isso bem claro. E mesmo que dê vontade de começar tudo do zero, como se estivéssemos nos conhecendo agora em uma rede social qualquer, não dá para fingir. Já há muito de você em mim para agir como se fôssemos perfeitos desconhecidos. Até podemos tentar, mas como explicar para o coração que aquela marca ali dentro tem a forma de um desconhecido?
Incrível como dói muito mais a tua ausência do que a indiferença da tua presença. É, era assim, você não percebia? Pois é.

A vida é mesmo assim

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Ela queria ficar, apesar de saber que provavelmente seria bem mais fácil ir embora. Afinal, ela só queria um amor de paz, daqueles que dão abraço sem pedir. Porque esse é o único amor que vale a pena, quem gosta de tempestade no coração é adolescente, adulto gosta mesmo é de panela antiaderente e calmaria dentro do peito.
Ela sabia que ia sentir falta de tê-lo nos seus pensamentos diários, dos planos e das lembranças dos breves dias que pareceram anos e que vieram enfeitados de fogos de artifício e levaram embora o sono. 
"Achei que era desta vez", pensava. E no fundo, ela ainda acha. Mas o orgulho - ah, sempre ele, não fosse ela satanáries - a cala, sobrando os dedos irrequietos passando por fotos e frases onde ela não está nem participa. E dói. Dói muito.



Tem horas em que os seus próprios tropeços lhe trazem mais angústia do que as mentes perturbadas alheias. Ela tentou, de verdade. Mas mais uma vez, não foi suficiente. "A vida é mesmo assim", dizem. E estão certos, mas a vida seria bem mais fácil se as pessoas tivessem um pouco mais de coragem.
Rapaz, você fode com o psicológico dela, sabia? E, mesmo assim, ela sente falta. E só queria que você lhe dissesse que vai dar tudo certo.
Mas como dizem, a vida é mesmo assim.

Sem avisar

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A multidão segue apressada, cheia de seus afazeres que não a deixam pensar ou enxergar à sua volta. O carro buzina - motorista impaciente que não consegue esperar cinco segundos para seguir o seu caminho. Mais ninguém sabe esperar.
O pipoqueiro fica à sombra do toldo do seu carrinho. Tem de 3, 4 e 5 reais. Ninguém para para comprar, e ele começa a repensar o negócio que não dá dinheiro, e ele não tem a mínima ideia do que fazer para reverter. 
Tantos rostos anônimos, tantas histórias de vida por contar. 
Ela andava olhando para baixo, segurando um copo de café daquela cafeteria hipster que ela tanto gosta. O seu nome estava escrito errado, para variar. Já se acostumara com isso. No fone de ouvido, aquele rock antigo que ela não parava de escutar. O analfabetismo musical era gritante, mas ela não se importava. De repente, se abrir para coisas novas não era assim tão interessante. Que fique o Jon.
"Preciso de um cigarro", pensou. Como ela gostava de um cigarro depois do café. Também pensou que precisava parar de fumar. Mas naquele momento ela precisava de fumar. Estava passando, como dizer por aí, pelo seu inferno astral. Estava à beira de mais um aniversário e mais uma vez estava tudo na mesma. 365 dias e nada havia mudado. Oh well, vida que segue. 
"Acho que deveria fazer alguma arte marcial". É que ela precisa de alguma coisa que a faça sentir diferente, um pouco fora da sua pele. No fundo, no fundo, ela precisa de se sentir um pouco longe, para esquecer, como se visse sua vida pela perspectiva de outra pessoa.
"Porra, preciso parar de pensar tanto nas coisas". Ela pensava demais, é verdade. Pensava de uma forma tão intensa que até doía o peito. Lá está, é um dos muitos defeitos dela: ela praticamente exigia que todos pensassem e agissem como ela pensa e age. Mal de ariano, dizem por aí. O tal "Ah, deixa que eu faço aqui, vai". Que merda de mania chata da porra. Deixa os caras, mano. Ela até tenta, e às vezes até consegue, mas depois lá vem a ideia de que só o que ela acha está certo. Talvez um dia ela consiga mudar, ser mais flexível. Ou não.




Para o seu trajeto apressado para fazer carinho a um cachorro abandonado. Abandonado, não vadio, que assim é ofensivo. Dá um pedaço do bolo que tem na bolsa. "Tchau, catioro!", despede-se, sabendo que é falta de educação não cumprimentar um cão que chega até você abanando o rabo. 
"Por que as pessoas não são mais como os cachorros, que demonstram o amor de uma forma tão natural?". É porque com os humanos, o buraco é mais embaixo. Um cão é capaz de fazer festa para alguém que o abandonou dois dias atrás. O humano... ah! o humano, esse é mais difícil de conquistar. "Acho que as pessoas são diferentes umas das outras, no fim das contas". Mas que seria bom um carinho e um abraço sem aviso prévio, ah, isso seria. 

Amar é para os fortes

segunda-feira, 20 de março de 2017

Numa época de relacionamentos vapt-vupt, de dar like esperando o match, de muitos "oi, sumida" nas redes sociais e poucos "vamos tomar um café agora?", demonstrar interesse pelo outro é cada vez mais raro. Hoje, ganha quem demora mais para mandar uma mensagem, o prêmio vai para quem é mais desapegado. Afinal, o que está acontecendo com o mundo que parece não querer mais amor na sua vida?

Há quem até se doe, mas pela metade. E não, não é aquela metade da laranja que o Fábio Júnior já cantava. Até porque ninguém deve procurar metade nenhuma, somos inteiros, ninguém deve vir para completar, mas sim para somar. Mas não é dessa metade que estou falando. As pessoas hoje, quando se interessam por alguém, vão já com o pé atrás, já estabelecem o limite até onde querem ir, independentemente de saber se o encontro terá aquele "fogo-de-artifício" típico de quem se gosta no primeiro olhar ou não.



Ninguém é obrigado a demonstrar interesse quando não se tem, ou a gostar do outro. Tudo bem, é normal. O que não deveria acontecer é a auto-sabotagem, o gostar e não querer nada além de uma noite quente de prazer e tchau. Acabou as mensagens de "bom dia", acabou a ligação no horário de almoço, acabou o interesse. Assim, simples, beijo e tchau. Venha o próximo da lista que não há tempo a perder. 

Amar, definitivamente, é para os fortes. E é por isso que devemos agradecer por cada toco, cada interesse que se esvai na manhã seguinte, cada "Desculpa, mas não vai rolar". Quem não está disposto a brincar no jogo do amor não deve descer para o play. Passa a vez para o coleguinha e fica no celular procurando o próximo no cardápio humano que você ganha mais. 

Quem procura amor de verdade não deve se preocupar com os "nãos" mascarados de sumiços que falam mais do que palavras. Deve é agradecer. Porque a pele se auto-regenera no amor próprio e prepara o coração do valente na busca da felicidade. 

Um dia após o outro

quinta-feira, 16 de março de 2017

Acordo. Antes do que gostaria, mas sem ajuda do despertador. Desde que ele nasceu, o meu corpo se acostumou a acordar sozinho. Olho para o lado, ele ainda dorme. É sempre bom acordar e vê-lo ali do meu lado. Nem reclamo quando ele me chama 5h da manhã, para pegá-lo na cama dele e levá-lo para a minha. "Mãe! Mamãe!". Dormimos juntos desde que ele tem seis meses. A desculpa primeiro era a amamentação. Mas foi ficando, ficando. Hoje ele só vai para lá de madrugada. Eu nem ligo - e adoro, devo confessar. Afinal, não vai ser um bebê para sempre.
Já estou cansada logo de manhã. No instagram as famosas já correram, já malharam com os Mahamudra no Ibirapuera, já fizeram dez refeições. Eu estou me esforçando para viver ainda. Puta canseira ser mãe. Essa é a verdade. Cansa, cansa pra caralho (desculpa mãe!). Mas somos ensinadas a não reclamar. "Não quis ser mãe? Agora aguenta". Meu filho, aguento com todo o prazer, mas que alguém poderia ter me avisado que nunca mais dormiria do mesmo jeito e que teria de aprender a viver para sempre cansada, com sentimento de culpa, com medo de falhar a qualquer atitude de birra ou má-criação. Claro que não desistiria de ser mãe, mas pelo menos estaria mais preparada.



Na maioria das vezes, eu não me acho uma boa mãe. Fico mais tempo no celular do que deveria. Talvez poderia insistir mais para ele comer, depois de eu ter passado uma hora cozinhando e ele dá apenas uma garfada e fala que não quer mais. Creio que boas mães teriam medo que o filho morresse de fome e criariam mil e uma estratégias para ele comer. Mas eu não. Eu insisto duas vezes, e se ainda assim não comer, eu mesma como. Já estou acostumada a comer restos do prato dele. Também não me acho uma boa mãe quando fico aliviada quando ele vai para o pai. "Meu Deus, sou horrível, fico contando as horas para o meu filho ir para a casa do pai. Que mãe sou eu?". 
No outro dia, dei pela primeira vez um tapa na mão dele, depois dele ter feito uma má-criação daquelas (nem lembro mais o quê). Ele chora, chora muito. E eu, claro, me sinto uma merda. E depois ele olha para mim e fala: "Mamãe, cupulpa". Ah, meus amigos, aí não há coração que aguente. Vontade de sair na rua e pedir para o primeiro estranho: "Moço, por favor, me dá um tapa na cara com toda a sua força, por favor?". 

Enfim, todas nós temos pelo menos um momento do nosso dia em que nos sentimos apenas “a pior mãe do mundo”. Em que precisamos daquele abraço, para nos dizer que vai ficar tudo bem. E sabem que mais? Geralmente tudo fica melhor após uma "boa" (coloco entre aspas porque a partir do momento em que você é mãe, dorme com um olho aberto e outro fechado) noite de sono. Amanhã começa tudo outra vez. É só torcer para, desta vez, ele pelo menos comer metade do que está no prato. 

Um café e um abraço

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Ela não era uma pessoa das manhãs. A rotina dos últimos anos a levou a ter aversão de acordar cedo, ao ponto de lhe estragar o humor do resto do dia. Então, ao longo do tempo, ela achou em uma xícara de café (ou duas, três, quatro...) a solução para a ressaca moral, o alívio que precisa para encarar o dia. "Eu não funciono sem café", dizia. Ah, e como sabiam disso quem com ela convivia! Ela até dá aquele "bom dia" tímido de manhã, mas viver, viver de verdade, só depois do café preto. E nem adianta vir com a caneca de café com leite. É da cafeína pura que ela precisa. Ou ela não se responsabiliza pelos seus atos. Sério.

"Café é vida", ela costuma dizer. Talvez seja um pouco demais, mas ela via naquela bebida quente e forte (tem de estar tipo tinta, por favor...) uma forma de se autobrindar, uma chance de ter um dia mais disposto. Bem, dizem que o dinheiro não compra felicidade, mas compra pó de café, que é basicamente a mesma coisa.




Dividir com alguém o momento de beber café é que nem dividir senha do Netflix: não são necessárias palavras para demonstrar a força desse afeto. Ali está ela, disposta a partilhar aquele instante tão imprescindível na vida dela: sorte de quem ela escolhe para fazer isso.

Um café tem a força de um abraço: ele, por si só, demonstra que não há nada como um dia após o outro com uma noite pelo meio. Porque café que é café não tira sono, ele traz cura e inspiração. Ah!, se pudéssemos misturar o doce aroma de um café acabado de passar com a ternura de um abraço! Tantas lágrimas seriam poupadas, tantos sonhos ganhariam força para serem realizados, tantos problemas seriam desatados. 

Na falta do abraço certo, o café faz o resto.

Eu vejo você

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Eu vejo você pelos caminhos que quero te levar, pelas ruas que você não conhece e pelos sons que quero te apresentar. Vejo você em uma barraca de pastel e caldo de cana, onde nos imagino em um domingo ensolarado. Quase consigo ver seu olhar vidrado no palco de um teatro qualquer em São Paulo, onde, de mãos dadas para nunca mais largar, assistiremos a uma peça que te fará sorrir. Vejo sua silhueta em um café hipster da Paulista, enquanto discutimos a real causa do protesto que para a cidade. Vejo você com a chave da minha casa, da minha vida e do meu coração, onde você já é rei e senhor - e não faz nem ideia. Vejo você em uma tarde de calor em um parque sem árvores, com meu filho nos seus ombros te pedindo um picolé. Ali está você também, nos desenhos da minha pele, que quando olho reparo que, em cada uma, já está tatuado o que entrego nas suas mãos. Vejo seu olhar apreensivo quando parece que não vou parar no sinal vermelho, o tom da sua voz quando me alerta que tem um sinal de "Pare" ali à frente e quando você parece não acreditar que comigo no volante, tem de ter emoção e música sertaneja.



Vejo você alegre sambando em um bloco de rua enquanto eu só torço para não derrubarem a cerveja na minha roupa, que comprei especialmente para essa ocasião. Vejo você em meio a pessoas que acabou de conhecer mas que já te adoram - tem como não adorar? Vejo você numa tarde preguiçosa de domingo, no meu sofá, e transformando seu corpo no encaixe perfeito do meu, como eu já sei que é mesmo sem ter testado.
Vejo você esperando eu voltar para os teus braços, agora para ficar. Vejo você pelas calçadas lisboetas onde você vai insistir em me levar, como se eu nunca tivesse pisado naquelas terras. E vais fazer questão de me explicar a origem da arte naquele prédio, no melhor estilo de guia turístico que só você tem. Vejo você de cerveja na mão, me levando aos melhores arraiais dos Santos Populares. Vejo você na voz de uma torcida em um estádio lotado em um jogo que não vale nada de um time que não ganha nada há 15 anos. Vejo você em um palco de improviso numa sala escondida na velha cidade, onde me apaixono cada vez mais e me pergunto por que Deus me deu tanta sorte de poder reescrever tudo do zero, com uma tinta que promete não sair facilmente, e não mais a lápis.
Vejo você em cada espelho que cruzo, porque mais nada me vai tirar o brilho que só você me soube dar. 

Oi, saudade, como vai?

sábado, 21 de janeiro de 2017

Oi, tudo bem? Quanto tempo, né? Estava sumida. Logo você, que volta e meia dava o ar da graça, fazia um tempo que não aparecia. Sim, sei que eu pedi para você sumir, que eu queria viver o presente, com meu coração peludo. Mas é que eu esqueci de como você é astuta, que com você não dá para vacilar. Que boba fui, logo eu, que sabia que assim que eu fraquejasse, você voltaria a abalar as minhas estruturas e a bagunçar a minha vida. Pois é, fraquejei e deixei que você voltasse. E agora você não arreda o pé. Porra, me ferrei. De novo.
O problema é que com você tudo fica mais complicado. E mais fácil ao mesmo tempo. Você traz a felicidade de sentir aquele aperto no peito, relembrando as coisas boas que vêm com você, os abraços, os cheiros e as covinhas do sorriso. E é tão bom saber que, se eu fechar os olhos e me concentrar bem, volto àquele momento, em que um amor embalado pelos cânticos de uma torcida qualquer trazia lágrimas aos olhos e fazia a inevitável pergunta "Merda, e agora?" ecoar dentro do meu ser. Mas você traz também aquela aperto foda no coração, da vontade de viver o que não se teve tempo para viver, os passeios de mão dada em um empreendimento qualquer que transforma área de fábricas abandonadas em ponto turístico, as tardes embaixo do cobertor assistindo um filme que a gente nem vai estar prestando atenção porque o que interessa são os nossos corpos ali juntos, como nunca tivemos oportunidade. 
Eu não te chamei, mas você veio. E não veio sozinha. Foi lá atrás, há 11, 12 anos, e me fez ter vontade de transformar aquele passado inacabado em presente e futuro. Assim, sem aviso prévio, sem me dar uma dica, sem aviso prévio, sem dó. Porra, você só pode ser louca.




Mas não vai embora. Fica. Fica mais um pouco. Nem que seja para eu me acabar naquelas músicas que todos dizem que odeiam mas que trazem tantas verdades, que mostram que nem tudo o que ficou para trás tem de ficar lá e que talvez seja a hora de, desta vez, tentar acertar. 
Mesmo que você tenha deixado de lado o salto alto e a sutileza  para chegar de coturno chutando a minha cara, eu te digo: seja bem-vinda. Vê se me orienta direitinho desta vez e, por favor, não me deixes estragar tudo de novo.

E agora?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Eles brigavam. E brigavam. E brigavam. Aí ele terminava com ela em uma conversa no MSN. Mas logo voltavam. Paz e amor? Uns cinco minutos. Quando dois intempestivos se juntam, não se pode esperar muita tranquilidade. E ela gostava de não deixar nada barato. Pobrezinha, do alto dos seus 20 aninhos ainda achava que a velha máxima de "não levar desaforo para casa" ainda dava certo. Coitada, não sabia nada da vida (aqui entre nós, ainda não sabe muito não).
Ela não contava a ninguém, mas ela gostava daquele cara de voz marcante e covinhas quando sorria. No dia em que a levou ao teatro, ela, que sempre escondia o seu lado mais sensível, chorou durante um monólogo qualquer sobre amor. Tentou que ele não visse, mas ele viu. A quem ela queria enganar? Era ele, e ele a conhecia. 
Eles não ficaram juntos. Não ficaram por muito tempo. Uma década sem sequer um "oi". "Ele deve me odiar", pensava ela. "Será que ela está bem?", se questionava ele, sem conseguir esquecer aquele "Me apaixonei por outro, desculpa", que pôs fim à história dos dois.
 
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