Eu vejo você

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Eu vejo você pelos caminhos que quero te levar, pelas ruas que você não conhece e pelos sons que quero te apresentar. Vejo você em uma barraca de pastel e caldo de cana, onde nos imagino em um domingo ensolarado. Quase consigo ver seu olhar vidrado no palco de um teatro qualquer em São Paulo, onde, de mãos dadas para nunca mais largar, assistiremos a uma peça que te fará sorrir. Vejo sua silhueta em um café hipster da Paulista, enquanto discutimos a real causa do protesto que para a cidade. Vejo você com a chave da minha casa, da minha vida e do meu coração, onde você já é rei e senhor - e não faz nem ideia. Vejo você em uma tarde de calor em um parque sem árvores, com meu filho nos seus ombros te pedindo um picolé. Ali está você também, nos desenhos da minha pele, que quando olho reparo que, em cada uma, já está tatuado o que entrego nas suas mãos. Vejo seu olhar apreensivo quando parece que não vou parar no sinal vermelho, o tom da sua voz quando me alerta que tem um sinal de "Pare" ali à frente e quando você parece não acreditar que comigo no volante, tem de ter emoção e música sertaneja.



Vejo você alegre sambando em um bloco de rua enquanto eu só torço para não derrubarem a cerveja na minha roupa, que comprei especialmente para essa ocasião. Vejo você em meio a pessoas que acabou de conhecer mas que já te adoram - tem como não adorar? Vejo você numa tarde preguiçosa de domingo, no meu sofá, e transformando seu corpo no encaixe perfeito do meu, como eu já sei que é mesmo sem ter testado.
Vejo você esperando eu voltar para os teus braços, agora para ficar. Vejo você pelas calçadas lisboetas onde você vai insistir em me levar, como se eu nunca tivesse pisado naquelas terras. E vais fazer questão de me explicar a origem da arte naquele prédio, no melhor estilo de guia turístico que só você tem. Vejo você de cerveja na mão, me levando aos melhores arraiais dos Santos Populares. Vejo você na voz de uma torcida em um estádio lotado em um jogo que não vale nada de um time que não ganha nada há 15 anos. Vejo você em um palco de improviso numa sala escondida na velha cidade, onde me apaixono cada vez mais e me pergunto por que Deus me deu tanta sorte de poder reescrever tudo do zero, com uma tinta que promete não sair facilmente, e não mais a lápis.
Vejo você em cada espelho que cruzo, porque mais nada me vai tirar o brilho que só você me soube dar. 

Oi, saudade, como vai?

sábado, 21 de janeiro de 2017

Oi, tudo bem? Quanto tempo, né? Estava sumida. Logo você, que volta e meia dava o ar da graça, fazia um tempo que não aparecia. Sim, sei que eu pedi para você sumir, que eu queria viver o presente, com meu coração peludo. Mas é que eu esqueci de como você é astuta, que com você não dá para vacilar. Que boba fui, logo eu, que sabia que assim que eu fraquejasse, você voltaria a abalar as minhas estruturas e a bagunçar a minha vida. Pois é, fraquejei e deixei que você voltasse. E agora você não arreda o pé. Porra, me ferrei. De novo.
O problema é que com você tudo fica mais complicado. E mais fácil ao mesmo tempo. Você traz a felicidade de sentir aquele aperto no peito, relembrando as coisas boas que vêm com você, os abraços, os cheiros e as covinhas do sorriso. E é tão bom saber que, se eu fechar os olhos e me concentrar bem, volto àquele momento, em que um amor embalado pelos cânticos de uma torcida qualquer trazia lágrimas aos olhos e fazia a inevitável pergunta "Merda, e agora?" ecoar dentro do meu ser. Mas você traz também aquela aperto foda no coração, da vontade de viver o que não se teve tempo para viver, os passeios de mão dada em um empreendimento qualquer que transforma área de fábricas abandonadas em ponto turístico, as tardes embaixo do cobertor assistindo um filme que a gente nem vai estar prestando atenção porque o que interessa são os nossos corpos ali juntos, como nunca tivemos oportunidade. 
Eu não te chamei, mas você veio. E não veio sozinha. Foi lá atrás, há 11, 12 anos, e me fez ter vontade de transformar aquele passado inacabado em presente e futuro. Assim, sem aviso prévio, sem me dar uma dica, sem aviso prévio, sem dó. Porra, você só pode ser louca.




Mas não vai embora. Fica. Fica mais um pouco. Nem que seja para eu me acabar naquelas músicas que todos dizem que odeiam mas que trazem tantas verdades, que mostram que nem tudo o que ficou para trás tem de ficar lá e que talvez seja a hora de, desta vez, tentar acertar. 
Mesmo que você tenha deixado de lado o salto alto e a sutileza  para chegar de coturno chutando a minha cara, eu te digo: seja bem-vinda. Vê se me orienta direitinho desta vez e, por favor, não me deixes estragar tudo de novo.

E agora?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Eles brigavam. E brigavam. E brigavam. Aí ele terminava com ela em uma conversa no MSN. Mas logo voltavam. Paz e amor? Uns cinco minutos. Quando dois intempestivos se juntam, não se pode esperar muita tranquilidade. E ela gostava de não deixar nada barato. Pobrezinha, do alto dos seus 20 aninhos ainda achava que a velha máxima de "não levar desaforo para casa" ainda dava certo. Coitada, não sabia nada da vida (aqui entre nós, ainda não sabe muito não).
Ela não contava a ninguém, mas ela gostava daquele cara de voz marcante e covinhas quando sorria. No dia em que a levou ao teatro, ela, que sempre escondia o seu lado mais sensível, chorou durante um monólogo qualquer sobre amor. Tentou que ele não visse, mas ele viu. A quem ela queria enganar? Era ele, e ele a conhecia. 
Eles não ficaram juntos. Não ficaram por muito tempo. Uma década sem sequer um "oi". "Ele deve me odiar", pensava ela. "Será que ela está bem?", se questionava ele, sem conseguir esquecer aquele "Me apaixonei por outro, desculpa", que pôs fim à história dos dois.
 
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