Não sou a mãe que gostaria: sou pior

terça-feira, 19 de julho de 2016

Existe um mundo secreto na internet, onde as mães vivem de cabelo escovado, maquiadas e unhas feitas, têm barriga chapada um mês após o parto, tiram foto de look do dia e fazem atividades montessorianas com as crianças, que, claro, andam aos 3 meses, falam aos 6 e quando têm um ano citam Camões. É o fantástico mundo das mães blogueiras.
Eu gostaria de ser esse tipo de mãe perfeita, que não deixa o filho ver TV, que lê para ele todas as noites, que faz uma série de atividades. Mas não sou.
Eu estou sempre cansada, apesar de ter a bênção do home-office e do trabalho a meio-período. A minha casa está bagunçada e sempre, sempre tem louça na pia para lavar. Adoro quando chega o fim de semana e posso ficar o sábado inteiro de pijama, sem make e com cabelo sujo.
Não me comovo com o choro de birra do meu filho e sou capaz de o ignorar impiedosamente quando ele chora de soluçar jogado no chão porque não o deixei comer pasta de dente. Já troquei a janta dele por um prato de Mucilon porque estava com preguiça de cozinhar para ele. Fico aliviada quando ele dorme, porque sei que é hora de colocar os pés para cima, pegar no controle e ir até Stars Hollow. 
Sempre mantive a calma nos seus episódios esporádicos de febre e ouso confessar que nunca secretamente pedi para levar a vacina no lugar dele, porque, afinal, se eu fosse vacinada ao invés dele, ele não estaria protegido. Sim, eu, Ana Garcia, não choro quando meu filho toma vacina e nunca pedi para ninguém entrar com ele no consultório no meu lugar - e a quem pediria, à moça da recepção?
Eu não fiquei com dó de o largar quando voltei a trabalhar - eu estava ansiosa para voltar a trabalhar e nunca, nem por um segundo, pensei em abandonar a carreira por ele. 

Mas de uma coisa tenho certeza: eu amo mais o meu filho do que a mim mesma. Não preciso chorar no dia da vacina para demonstrar todos os sacrifícios que tenho feito por ele desde que soube que Deus me deu a bênção de poder formar um ser humano no meu ventre. Devo sentir vontade de chutar o balde, pelo menos, duas vezes por dia desde que ele nasceu, mas se tenho o pé no chão, é por ele. Eu posso ser o seu porto seguro desde que ele nasceu, a única pessoa que esteve ao seu lado todos os dias, mas ele representa, sem sombra de dúvidas, o maior elo da minha ligação com Deus.

Não, não sou a mãe que gostaria de ser, sou pior. Gostaria de ser muito mais paciente, amorosa e meiguinha. Me culpo todos os dias pela incapacidade de maternar que, aparentemente, só eu tenho. Mas a realidade não é essa: se tenho de matar um leão - e demônio - por dia, tenho mais é que ser uma leoa. Espero que ele um dia me perdoe pelo tempo que sei que desperdiço tentando organizar o tumulto em que deixaram a minha vida. Ainda bem que ela é minha, logo, cabe a mim colocá-la de volta nos eixos.

O futebol em Portugal

sexta-feira, 8 de julho de 2016



Portugal é um país pequenino, mas se há um esporte que a gente gosta lá, é o futebol. Claro, invejosos dirão que Portugal não tem tradição no futebol, que perdeu para a Grécia em 2004, que o nosso melhor jogador era angolano, e por aí vai. Mas a maioria dos portugueses é fanática por futebol. 
Só que se você for brasileiro e estiver assistindo a uma partida de futebol lá, terá de se esforçar para entender, porque as expressões são um pouco diferentes.

Em Portugal, o goleiro é o GUARDA-REDES.
Para mim, faz todo o sentido, sempre achei que goleiro cabe mais em quem faz muitos gols.


Prestem atenção em como ele guarda as redes, impedindo o gol #sportingéseleção


Escanteio é PONTAPÉ DE CANTO.
Um pontapé que é feito do canto. Quer mais sentido que isto?


Gandula é APANHA-BOLAS.
O que é que o gandula faz mesmo? Hã? O quê? Ele apanha as bolas? Ah, entendi!


Troféu joinha para o apanha-bolas

Gol é GOLO. E BALIZA.
Fazer um gol é marcar um golo. Na baliza. Duas palavras para duas coisas diferentes.


Trave é POSTE.
A bola não vai na trave. Ela vai ao poste.


Gramado é RELVADO.
Porque nós dizemos relva, não grama.


Impedimento é FORA DE JOGO.
Se a jogada não é válida, ela está fora de jogo. Logo, a jogada é um fora de jogo.


O jogador usa CAMISOLA.
Camisola em Portugal não tem o mesmo sentido daqui. Lá, camisola tanto dá para a camisa de futebol quanto para a blusa de frio.


Os torcedores são ADEPTOS. E a torcida, CLAQUE.


O jogador não simula falta, ele ATIRA-SE PARA A PISCINA.
O Neymar fazia muito isso na época do Santos. E na seleção também, quando não arrega.



No intervalo, os jogadores não vão até o vestiário, eles vão ao BALNEÁRIO.


Selo Fabrício de qualidade


O jogador não dá caneta, dá CUECA.


E com este sketch do Gato Fedorento, melhor programa de humor de todos os tempos, me despeço neste post.



Quero me apaixonar de novo

terça-feira, 5 de julho de 2016


Aprendi a escrever antes de entrar na escola. A influência da minha irmã fez com que me apaixonasse pelo mundo das letras e histórias. Acabei por me diferenciar dos outros alunos no primeiro ano por já saber ler bem. Me lembro de a professora, D. Celina, me fazer ficar em pé lendo um texto na frente da classe inteira do 1° e 2° anos para a professora da outra classe ver como eu lia bem.
E eu amava ler, de tudo. Lia coletâneas de livros de terror para adolescentes que contavam a história de uma babá que vivia sendo aterrorizada por um assassino. Adorava também as histórias do grupo de amigos da coleção "Uma aventura". 
Na adolescência, também por influência da minha irmã, conheci os romances de Nicholas Sparks e similares. Gostava até dia livros de leitura obrigatória da escola. Me apaixonei por Os Maias e adorava estudar as poesias de Pessoa e seus homônimos.
Lado a lado com a paixão pela leitura andava o amor pela escrita. Ah, como eu gostava! Parece que eu já sabia que ia ganhar a vida com uma caneta na mão. Inventava poesias (ganhei até um concurso em que precisava escrever uma poesia para o nosso BSB favorito e ganhei ingressos para o show e passes para os bastidores), descrevia histórias e, já na adolescência, encontrava na escrita uma maneira de desanuviar as dores de amor causadas por homenzinhos desprovidos de caráter - sempre os escolhi a dedo.
Mas aí a paixão foi dando lugar à correria da vida, marcada por um casamento em idade precoce, uma mudança de país, continente e hemisfério que, consequentemente, trouxeram as obrigações da vida adulta.
Os livros deram lugar aos jornais e as poesias às reportagens. Parei de inventar histórias para contar histórias de verdade. 

Dez anos se passaram e acabei de me aperceber que o último livro que li foi o "O que esperar quando se está esperando", sobre gravidez. Também não lembro mais a última vez que escrevi uma poesia ou do prazer de escrever com uma caneta que desliza no papel.

Poderia culpar a correria do dia a dia pelo desinteresse de coisas que por toda a vida me fizeram vibrar de paixão. Conheci outros amores a quem me dediquei, mas... sinceramente? Poucas coisas valem tanto a pena quanto se perder nas histórias contadas dentro dos livros ou até mesmo inventar personagens, vidas, amores, desafios e medos. E quero voltar a sentir isso.

Das saudades de "casa"

sexta-feira, 1 de julho de 2016

*texto postado originalmente em 2011 em outro blog, mas mais atual do que nunca


Falar de saudade é um tanto ou quanto clichê, mas “de quando em vez”, os clichês saem do armário e ganham um pouquinho de vida, nem que seja em um blog que ninguém lê.
Uma vez disseram que eu era muito corajosa porque mudei para o outro lado do mundo com 22 anos. Eu não acho nem um pouco. O que eu fiz não tem nada demais. Mas não é sobre isso que quero falar hoje.
Hoje, quero falar de saudade. O dicionário Aurélio diz que saudade é um “sentimento nostálgico de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las”. É bem por aí.
Eu sinto muitas saudades de Portugal. Também não admira, Portugal é o melhor país do mundo. Não porque é mais desenvolvido que o Brasil (o que não corresponde totalmente à verdade), mas porque é o meu país. Tudo o que sou é porque nasci, cresci e me tornei adulta lá. Se eu tivesse crescido aqui, não seria o que sou hoje, e não sei se gostaria de ser diferente.




Eu costumo dizer que nós somos o que vivemos. Logo, hoje eu sou isto aqui, um Brasil brasileiro, uma jovem mãe solo, com um emprego, dois cachorros, uma casa e contas para pagar. Mas como deixar de lado Portugal? Não tem como.
E eu gosto do Brasil. Muito mais do que os meus comentários irônicos e maldizentes nem sempre tão bem compreendidos deixam transparecer. Mas tem um cantinho plantado à beira-mar do outro lado do mundo que nunca me deixará totalmente completa.
Pode parecer piegas, mas acho que quem vive fora da sua pátria-mãe sabe do que estou a falar. Uma vez um jogador de futebol português disse: ”O hino não se aprende, sente-se”. É por aí. Por mais que goste do Brasil, não sei se um dia vou amá-lo que nem amo o meu pequeno país.

É engraçado, se eu voltasse para Portugal, tipo, amanhã, eu continuaria incompleta, porque aí me faltaria essa alegria e simplicidade do Brasil, onde é tão fácil deixar raízes e amigos. Dos bons. Então, o que fazer?

Na verdade, não tem muito o que fazer. Só me resta seguir a vida com as escolhas que eu fiz para mim e, hoje, para o meu filho, e aprender que viver com o coração remendado não é tão ruim assim. E sempre tem as férias.

 
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