A tua ausência

domingo, 23 de abril de 2017

Hoje acordei com vontade de você. Assim que abri os olhos peguei no celular e quase mandei o "bom dia!" a que já estava acostumada todas as manhãs. Mas aí lembrei que você não está mais aqui. Lembrei que não nos falamos mais. Passou só meia-dúzia de dias mas já parece que foram anos, que o mundo mudou: a Terceira Guerra começou, o São Paulo foi eliminado de novo, o frio veio e foi embora, os cabelos brancos deram a cara e as rugas se fortaleceram.
Quis te mandar uma música, aquela, sabe? A que eu chamo de nossa e que por 11 anos eu não conseguia escutar sem lembrar de você. "Espero que ele esteja bem" era o pensamento que me vinha à cabeça quando a ouvia antes e é precisamente​ esse pensamento que veio agora. E eu quis mandar uma mensagem falando que estava sentindo a sua falta e receber de volta um "eu também".
Mas não mandei. Não mandei porque independentemente do que você responder, provavelmente nada vai mudar, o seu silêncio deixa isso bem claro. E mesmo que dê vontade de começar tudo do zero, como se estivéssemos nos conhecendo agora em uma rede social qualquer, não dá para fingir. Já há muito de você em mim para agir como se fôssemos perfeitos desconhecidos. Até podemos tentar, mas como explicar para o coração que aquela marca ali dentro tem a forma de um desconhecido?
Incrível como dói muito mais a tua ausência do que a indiferença da tua presença. É, era assim, você não percebia? Pois é.

A vida é mesmo assim

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Ela queria ficar, apesar de saber que provavelmente seria bem mais fácil ir embora. Afinal, ela só queria um amor de paz, daqueles que dão abraço sem pedir. Porque esse é o único amor que vale a pena, quem gosta de tempestade no coração é adolescente, adulto gosta mesmo é de panela antiaderente e calmaria dentro do peito.
Ela sabia que ia sentir falta de tê-lo nos seus pensamentos diários, dos planos e das lembranças dos breves dias que pareceram anos e que vieram enfeitados de fogos de artifício e levaram embora o sono. 
"Achei que era desta vez", pensava. E no fundo, ela ainda acha. Mas o orgulho - ah, sempre ele, não fosse ela satanáries - a cala, sobrando os dedos irrequietos passando por fotos e frases onde ela não está nem participa. E dói. Dói muito.



Tem horas em que os seus próprios tropeços lhe trazem mais angústia do que as mentes perturbadas alheias. Ela tentou, de verdade. Mas mais uma vez, não foi suficiente. "A vida é mesmo assim", dizem. E estão certos, mas a vida seria bem mais fácil se as pessoas tivessem um pouco mais de coragem.
Rapaz, você fode com o psicológico dela, sabia? E, mesmo assim, ela sente falta. E só queria que você lhe dissesse que vai dar tudo certo.
Mas como dizem, a vida é mesmo assim.

Sem avisar

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A multidão segue apressada, cheia de seus afazeres que não a deixam pensar ou enxergar à sua volta. O carro buzina - motorista impaciente que não consegue esperar cinco segundos para seguir o seu caminho. Mais ninguém sabe esperar.
O pipoqueiro fica à sombra do toldo do seu carrinho. Tem de 3, 4 e 5 reais. Ninguém para para comprar, e ele começa a repensar o negócio que não dá dinheiro, e ele não tem a mínima ideia do que fazer para reverter. 
Tantos rostos anônimos, tantas histórias de vida por contar. 
Ela andava olhando para baixo, segurando um copo de café daquela cafeteria hipster que ela tanto gosta. O seu nome estava escrito errado, para variar. Já se acostumara com isso. No fone de ouvido, aquele rock antigo que ela não parava de escutar. O analfabetismo musical era gritante, mas ela não se importava. De repente, se abrir para coisas novas não era assim tão interessante. Que fique o Jon.
"Preciso de um cigarro", pensou. Como ela gostava de um cigarro depois do café. Também pensou que precisava parar de fumar. Mas naquele momento ela precisava de fumar. Estava passando, como dizer por aí, pelo seu inferno astral. Estava à beira de mais um aniversário e mais uma vez estava tudo na mesma. 365 dias e nada havia mudado. Oh well, vida que segue. 
"Acho que deveria fazer alguma arte marcial". É que ela precisa de alguma coisa que a faça sentir diferente, um pouco fora da sua pele. No fundo, no fundo, ela precisa de se sentir um pouco longe, para esquecer, como se visse sua vida pela perspectiva de outra pessoa.
"Porra, preciso parar de pensar tanto nas coisas". Ela pensava demais, é verdade. Pensava de uma forma tão intensa que até doía o peito. Lá está, é um dos muitos defeitos dela: ela praticamente exigia que todos pensassem e agissem como ela pensa e age. Mal de ariano, dizem por aí. O tal "Ah, deixa que eu faço aqui, vai". Que merda de mania chata da porra. Deixa os caras, mano. Ela até tenta, e às vezes até consegue, mas depois lá vem a ideia de que só o que ela acha está certo. Talvez um dia ela consiga mudar, ser mais flexível. Ou não.




Para o seu trajeto apressado para fazer carinho a um cachorro abandonado. Abandonado, não vadio, que assim é ofensivo. Dá um pedaço do bolo que tem na bolsa. "Tchau, catioro!", despede-se, sabendo que é falta de educação não cumprimentar um cão que chega até você abanando o rabo. 
"Por que as pessoas não são mais como os cachorros, que demonstram o amor de uma forma tão natural?". É porque com os humanos, o buraco é mais embaixo. Um cão é capaz de fazer festa para alguém que o abandonou dois dias atrás. O humano... ah! o humano, esse é mais difícil de conquistar. "Acho que as pessoas são diferentes umas das outras, no fim das contas". Mas que seria bom um carinho e um abraço sem aviso prévio, ah, isso seria. 

 
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