A multidão segue apressada, cheia de seus afazeres que não a deixam pensar ou enxergar à sua volta. O carro buzina - motorista impaciente que não consegue esperar cinco segundos para seguir o seu caminho. Mais ninguém sabe esperar.
O pipoqueiro fica à sombra do toldo do seu carrinho. Tem de 3, 4 e 5 reais. Ninguém para para comprar, e ele começa a repensar o negócio que não dá dinheiro, e ele não tem a mínima ideia do que fazer para reverter.
Tantos rostos anônimos, tantas histórias de vida por contar.
Ela andava olhando para baixo, segurando um copo de café daquela cafeteria hipster que ela tanto gosta. O seu nome estava escrito errado, para variar. Já se acostumara com isso. No fone de ouvido, aquele rock antigo que ela não parava de escutar. O analfabetismo musical era gritante, mas ela não se importava. De repente, se abrir para coisas novas não era assim tão interessante. Que fique o Jon.
"Preciso de um cigarro", pensou. Como ela gostava de um cigarro depois do café. Também pensou que precisava parar de fumar. Mas naquele momento ela precisava de fumar. Estava passando, como dizer por aí, pelo seu inferno astral. Estava à beira de mais um aniversário e mais uma vez estava tudo na mesma. 365 dias e nada havia mudado. Oh well, vida que segue.
"Acho que deveria fazer alguma arte marcial". É que ela precisa de alguma coisa que a faça sentir diferente, um pouco fora da sua pele. No fundo, no fundo, ela precisa de se sentir um pouco longe, para esquecer, como se visse sua vida pela perspectiva de outra pessoa.
"Porra, preciso parar de pensar tanto nas coisas". Ela pensava demais, é verdade. Pensava de uma forma tão intensa que até doía o peito. Lá está, é um dos muitos defeitos dela: ela praticamente exigia que todos pensassem e agissem como ela pensa e age. Mal de ariano, dizem por aí. O tal "Ah, deixa que eu faço aqui, vai". Que merda de mania chata da porra. Deixa os caras, mano. Ela até tenta, e às vezes até consegue, mas depois lá vem a ideia de que só o que ela acha está certo. Talvez um dia ela consiga mudar, ser mais flexível. Ou não.
Para o seu trajeto apressado para fazer carinho a um cachorro abandonado. Abandonado, não vadio, que assim é ofensivo. Dá um pedaço do bolo que tem na bolsa. "Tchau, catioro!", despede-se, sabendo que é falta de educação não cumprimentar um cão que chega até você abanando o rabo.
"Por que as pessoas não são mais como os cachorros, que demonstram o amor de uma forma tão natural?". É porque com os humanos, o buraco é mais embaixo. Um cão é capaz de fazer festa para alguém que o abandonou dois dias atrás. O humano... ah! o humano, esse é mais difícil de conquistar. "Acho que as pessoas são diferentes umas das outras, no fim das contas". Mas que seria bom um carinho e um abraço sem aviso prévio, ah, isso seria.
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