Como a maternidade me fez perder o medo de barata

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Quer dizer, perder perdeeeeer não perdi, continuo preferindo perder um dedo do pé a ter de matar uma, mas desde que me tornei mãe, nasceu também o tal de instinto animal de proteger a cria. E, com isso, precisei começar a fazer coisas que antigamente não faria nem que me pagassem, como matar baratas.

Morar sozinha, em casa, no verão, é tenso demais, porque as baratas, espécimes mais fiéis representantes do que é o inferno, decidem sair de tudo o que é canto para se refrescar no seu lar. E se antes eu sempre tinha pavor de barata, com a maternidade precisei aprender a matá-las para não correr o risco de elas subirem no berço do Antonio e se alimentarem dos restos de leitinho da boca dele (desde que li aquela matéria da Superinteressante nunca mais fui a mesma). 

No início foi difícil. Gastava meia lata de SBP para cada barata, colocava uma camiseta ao redor do rosto, calçava luvas, pegava a vassoura e a pá e a jogava pelo vaso, apertando a descarga por, no mínimo, um minuto. Mesmo contribuindo para a diminuição dos reservatórios do Sistema Alto Tietê, continuava fazendo isso. Jogar no lixo? Jamais! Todos nós sabemos que elas não morrem, que ela ia fingir que estava morta ali dentro do lixo para, de noite, sair e passar em cima dos pratos e talheres só para me trollar.

Até que um dia tudo mudou. Cheguei em casa e estava aquele calor de morrer. Estava tão apertada para fazer um pips que corri para o banheiro. E ali estava ela, a filha do capeta, em cima da pia. 




De calça arreada, ainda fugi, mas não dava para segurar, e fazer um pips no quintal seria demais até para mim. Então precisei fazer xixi de frente para uma barata. Viva. E mais, ela poderia ter fugido, se amedrontado. Mas não. Ela sabia que eu era trouxa e me encarou. Sim, naquele dia, uma barata me encarou.



"Eae, trouxa?"

Foi aí que tudo mudou. "Perae, você tá me encarando, mano?". A minha honra não podia admitir tamanha ousadia. Peguei uma camiseta, enrolei no rosto e peguei o SBP e a vassoura. Joguei apenas um pouco de SBP só para ela cair no sangue. Eu já havia decidido que aquela morte teria de ter sangue - ou gosma branca, no caso. 
À medida que ela tentava fugir, eu batia com a vassoura. "ENCARA AGORA, MANO, ENCARA! MORRE! MORRE!". Os gritos saíam abafados pela camiseta encobrindo o rosto, mas o som chamou a atenção do Antonio que espreitava pela porta. E, cerca de 20 vassouradas depois (não sou muito boa de pontaria), a barata que gosta de encarar os outros foi sentar lá no colo do capeta.


"Ninguém me encara, mano, ninguém".

A minha vida se divide entre o antes e depois deste momento. Claro que continuo preferindo a morte a ter de matar uma com o chinelo, mas acho que agora ficou claro quem que manda no baguio.

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