Das tribulações

"E, de repente, você não tem mais nenhum controle na sua vida. Nada do que era, é, e você não sabe como vai ser amanhã, depois, daqui a um mês, a um ano.
Dá vontade de trocar de vida, mudar para Nova York, começar a trabalhar em outra coisa qualquer, como, sei lá, dog walker, trocar a cor de cabelo, mudar de estilo e apagar tudo o que ficou para trás.
Mas não é assim tão simples. A vida não é assim tão simples. E aí você está ali, apático e sem nenhum controle da sua vida.
E isso dá medo. Ah, se dá".

Escrevi este texto em novembro de 2011, em um outro blog que mantive durante alguns anos. Sempre gostei de escrever como forma de terapia, mas a vida adulta meio que me estupidificou e acabei por deixar isso um pouco de lado. Afinal, minha profissão já era escrever e fui dando prioridade a outras coisas.

O texto é de 2011 mas podia ser de hoje. Continuo com a sensação de que realmente não controlo a minha vida, continuo querendo mudar para Nova York, pintar o cabelo e ser dogwalker. Mas uma coisa mudou. Hoje, tem uma pessoa que depende totalmente de mim, o meu filhote.
Quando você tem um filho, você começa a ver a vida com outros olhos. Percebe que você terá sempre de ser exemplo para ele, a menos que você queira ver seus defeitos no seu próprio filho.
E dá um medo danado de morrer. Eu estou sempre com medo de morrer e não saber como meu filho vai ser criado e como ele vai viver com a minha memória.
Quando você não tem filhos, você pode tudo, cara. Os outros que se lixem, não é assim que pensamos? Mas a partir do momento que tem uma pessoinha com o seu DNA por aí nesse mundo, aí a "responsa" aumenta.
Dá medo? Oh se dá! Às vezes tenho a sensação que não faço a mínima ideia disso de maternar. Mas sei que a cada dia que passa, tento fazer o meu melhor. Mesmo quando quase todos os dias peço perdão ao meu filho pelos erros que cometi e cometo e que acabam por afetá-lo. Espero que um dia ele entenda.